Projetos / Residencial / Casa M13

 

Um grande lote, em um condomínio fechado, guarda possibilidades infinitas. Como cuidar para que a qualidade projetual se mantenha em um local onde quase tudo pode, tudo é possível?
O vazio, ambiente cuja espacialidade é delimitada por casas vizinhas e uma bonita área verde nos fundos, se escancara para a rua (que não é a rua da cidade, mas uma rua acessada por poucos). Embora grande, o terreno é íntimo, com possibilidade de implantação generosa. Cuidar para que tal lote seja aproveitado em sua totalidade, com integração máxima de áreas ajardinadas, é uma das premissas do projeto.
Dada a inclinação do lote, perpendicular em relação à rua, foi possível adotar o nível médio do terreno como cota zero, “aplainando” a topografia de maneira a compensar bem o volume de terra retirado e aproveitado. Por conta da legislação do próprio condomínio, não seria permitido muro de arrimo que excedesse a altura de 1 metro em relação ao nível médio (nossa cota zero). Isso guiou a ocupação do espaço, com um muro de arrimo separando o recuo lateral a oeste, formando um talude ajardinado exatamente 1 metro mais alto em relação à cota da casa. Juntando-se ao talude, jardins ocupando o recuo do fundo e lateral a leste, complementam um circuito que termina em frente à área destinada a serviços, onde um abrigo para os cães delimita a área da residência.
A movimentação de terra também possibilita a criação de um subsolo exatamente na área logo abaixo dos serviços (a área, dentro do espaço construído, mais distante do ponto mais alto do terreno), onde uma segunda garagem cria a possibilidade de conformação de uma oficina, um local para manutenção e reclusão. Para facilitar a implementação de tal nível, abaixo do térreo, e para tratar a estrutura da residência de maneira a não depender do abrigo de autos, mantendo a racionalidade da estrutura adotada, a casa foi implantada como um prisma regular a 6 metros do recuo frontal, gerando espaço para tratamento paisagístico e a cobertura da garagem térrea, independente do corpo principal da casa. Tal afastamento também cria um “destaque” em relação às edificações vizinhas, contribuindo para a apreensão total da arquitetura, cuja horizontalidade é predominante.
O programa de necessidades foi disposto de maneira a separar a residência em dois diferentes níveis (três se contarmos o pequeno sub-solo): no pavimento térreo, área social, serviços e um pequeno apartamento; no pavimento superior, área íntima e solário.
Quatro acessos se fazem possíveis de quem vem da rua. A oeste, um portão lateral da acesso a um pequeno jardim (fechado da rua por um plano de cobogós), que se cerca por uma suíte térrea e um escritório. Seguindo adiante, pode-se acessar a área de lazer, onde um deck e longa piscina (servidos por dois vestiários) oferecem visuais interessantes tanto da residência como da grande área verde nos fundos do terreno.
A conformação de tal área de lazer foi determinante para a posição da volumetria da casa, de maneira a permitir o máximo aproveitamento do sol. Por conta da grande área verde, frondosa em vegetação, principalmente árvores de grande porte, e do vizinho mais alto, a oeste, tanto o sol no começo da manhã, quanto no final da tarde, ficam limitados. Cuidar para que o sol incidisse diretamente na área de lazer durante a maior parte do dia (entre 10h e 16h) foi possibilitado pela correta implantação.
Frontalmente à rua, a entrada principal acontece debaixo de um grande beiral. Ao entrar, uma surpresa: um pátio jardim ilumina gentilmente o espaço interno e oferece visual completa de todo o terreno. Em outras palavras, aquele que adentra pela porta principal consegue enxergar o terreno até o fim, até a copa das árvores. Esse hall de entrada, banhado pela luz do pátio, divide a área construída térrea em dois caminhos: a oeste, um lavabo e um escritório (exatamente entre o jardim íntimo fechado por cobogós e o pátio jardim interno); a leste, a sala de estar dá acesso ao grande espaço do living e à escada que leva ao pavimento superior. O living, uma grande área (possível de ser completamente fechada e segmentada, ou aberta por grandes portas de correr que se ocultam dentro das paredes) compõe o principal eixo da casa, com sala de TV (onde é possível acessar a suíte térrea através de uma porta de correr oculta em painel), sala de jantar, cozinha e varanda gourmet, funcionando como uma extensa área “pavilhonar” em forma de “L”, abraçando a área de lazer.
A leste, de quem vem da rua, um portão lateral dá acesso à área destinada aos cães e à área de serviços diretamente ligada à cozinha, com lavanderia, grande despensa, e banheiro. Uma escada localizada logo no acesso coberto, leva à oficina no subsolo, possibilitando que, em dias de chuva, ou de compras no supermercado, o morador tenha acesso direto à casa de uma garagem coberta, levando diretamente à área de serviços e despensa.
No pavimento superior, além de três suítes, uma pequena sala de espera cria um eixo de circulação em cruz: verticalmente (acesso aos dormitórios) e horizontalmente (acesso a um grande solário e a uma escada externa a leste). Enquanto o solário oferece bonitos visuais a quem dele desfruta, o destaque fica para a suíte principal localizada a norte: pelas suas características e posição, oferece visão de 180º do terreno e da área verde nos fundos.
Para proteger o volume superior do sol, principalmente pelo fato de dois dormitórios estarem voltados para oeste (região de considerada insolação, mas necessária para aproveitamento da área de lazer abaixo), grandes portas tipo “camarão” de ripas de madeira servem como brise e segunda pele do volume, possibilitando que todos os vãos se abram completamente a bel prazer. Para possibilitar a segunda pele, pequenos beirais de concreto, com cerca de 0,20m, avançam das vigas metálicas que sustentam as lajes alveolares do pavimento superior e cobertura, “envolvendo” planos de concreto, ocultando as vigas da cobertura (apenas reveladas quando se abre as portas/brises de madeira). A leste, protegendo parte da empena que delimita o corredor de acesso aos dormitórios, está o mesmo cobogó do jardim íntimo térreo, fechado internamente por portas de vidro que podem ser abertas. Os brises de madeira e o cobogó, criam uma segunda pele que barra o sol e que permite ventilação cruzada.
A estrutura principal da casa é metálica, vencendo grandes vãos com poucos pontos de apoio. Vigas e pilares tipo “I” estruturam lajes alveolares, racionalizando a construção. O concreto aparente comparece em alguns fechamentos e solidarizações, como na cobertura do abrigo de autos por exemplo, totalmente em concreto, independente da casa, realçando o contraste entre os dois sistemas construtivos: o concreto (estrutura “escultórica” e livre) e metálica (racional e rígida).

Ficha Técnica

Residencial
Ribeirão Preto - SP

PROJETO
2014
ETAPA
Estudo Preliminar

ARQUITETURA
Fernando Gobbo e Larissa França